Uma viagem para o tempo futuro

No último mês de julho, quando muitas crianças e adolescentes estavam em férias, os aprendizes do Instituto Crescer Legal fizeram uma visita técnica no Museu de Ciências e de Tecnologia em Porto Alegre. Esse museu é um dos mais importantes do Brasil e tem características interessantes, especialmente porque é interativo e proporciona experiências e aprendizados inesquecíveis. Mas o que essa visita tem a ver com a gestão e o empreendedorismo rural?

As novas tecnologias aos poucos chegam ao campo. É verdade que no Brasil rural têm demorado um pouco mais do que em outros países e outras realidades. Mas estão chegando e dominando a linguagem dos jovens, os meios de comunicação e a forma de interação.

As empresas que possuem no meio rural uma ponta das suas cadeias produtivas trabalham com tecnologias cada vez mais avançadas, seja nos sistemas de processamento de informações, na pesquisa científica para o desenvolvimento de novos produtos, ou na comunicação entre as pessoas.

Os jovens, de outra parte, digitam mais do que falam, estão em redes sociais, mais do que assistindo TV, e ainda que estejam de corpo presente no campo, têm possibilidade de acesso a outros cantos do mundo.

São do campo e isso traz algumas especificidades, mas também pertencem à geração jovem desde início do Século XXI e isto os faz parte de algo que atinge a todos nesta condição.

É preciso preparo para os tempos atuais e, mais ainda, para os que virão.

Viver, conviver e trabalhar em tempos de economia digital requer qualificação, elevação do tempo de escolaridade e pensamento inquieto, aberto ao novo, ao aprendizado.

É verdade que nem tudo que inclui esses novos tempos é bom. Toda a nova descoberta da ciência precisa ser vista desde a perspectiva ética e, em regra, traz melhorias sociais, mas também problemas. Novos problemas, que exigem soluções criativas.

Mas o fato é que os velhos tempos, se não se renovarem, não voltarão…

Os tempos que vêm pela frente exigem preparo para ser um produtor ou um trabalhador no campo e, quanto mais acesso ao que existe no mundo os jovens tiverem, mais aptos estarão.

Mas é só de tecnologia que uma visita técnica a um museu de ciência e tecnologia proporciona?

Nada disso! Certamente quando cada jovem chegou em casa, contou as novidades para a família. Talvez tenha contado como foi a viagem de ônibus, como é Porto Alegre, como os colegas o trataram na viagem, se ficou olhando para um menino ou uma menina, quais emoções sentiu.

A vida de adolescentes é cheia de emoções, sentimentos, preocupação com a opinião do grupo, necessidade de pertencimento. Por mais que nós, adultos, tentemos dirigir o curso dos acontecimentos, em meio a nossa condução, muitas emoções acontecem.

Nesse ponto também está a diferença entre ser de uma geração e outra. Entre ser adulto e ser adolescente.

Às vezes, nós adultos achamos que eles (os jovens) sabem de tudo, porque dominam novas tecnologias, parece que sabem mais do que nós. Mas logo vemos que não sabem administrar uma frustração, uma rejeição, uma experiência de dor, tudo isto em um mundo que cultiva só o sucesso e a felicidade.

Nós adultos precisamos estar presentes e sempre atentos. Abertos para ver o novo que surge, no qual eles estarão conectados, mas preparados para acolher, ajudar a organizar, conversar, ouvir. Ou seja, precisamos nos conectarmos a eles.

Não sabemos o que trará o futuro. Ninguém sabe!

Mas sabemos que o futuro do campo pode ser melhor se os jovens de hoje estiverem bem preparados. Para isso precisam despertar para aquilo que tem de novo, por exemplo lá no museu, mas também precisam estar mais preparados para viver as emoções da viagem.

Colunista

Ana Paula Motta Costa

Advogada, socióloga, mestre em Ciências Criminais (PUC/RS), Doutora em Direito (PUC/RS), Professora do Curso de graduação, Mestrado e Doutorado da UFRGS e Professora do Curso de Mestrado em Direitos Humanos do UniRitter. É pesquisadora há vários anos na área dos direitos das crianças e adolescentes, com vários livros e artigos publicados em periódicos científicos. É consultora do Instituto Crescer Legal para a área de aprendizagem de jovens rurais e combate ao trabalho infantil.