Tecnologia a serviço da agricultura

Os jovens aprendizes do Instituto Crescer Legal se inspiram nos melhores, em empreendedores, pessoas que buscam o diferencial para fazer a diferença. Por isso, o Boletim Crescer Legal divulgado em julho traz a entrevista com Mariana Vasconcelos, uma jovem do agronegócio que está fazendo história por promover a união da tecnologia com a agricultura. Filha de agricultores de Itajubá, Minas Gerais, Mariana é expert em agricultura digital e co-fundadora e CEO da Agrosmart, empresa considerada Pioneira Tecnológica pelo Fórum Econômico Mundial.

Formada em Administração pela Universidade Federal de Itajubá, em Negócios pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), e com formações também pela University of California Los Angeles (UCLA) e Singularity University, Mariana Vasconcelos foi eleita pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) como uma das jovens mais inovadoras do mundo com menos de 35 anos e eleita uma das 100 mais criativas pela Fast Company. Ela é embaixadora global do Thought for Food e considerada uma das 100 pessoas mais influentes do agronegócio pela Revista Dinheiro Rural.

Em sua entrevista para a o Boletim Crescer Legal, Mariana prevê que o futuro da atividade rural é orientada a dados e informação, na qual as pessoas farão menos trabalhos manuais e mais trabalhos de decisão e análise. Otimista, ela diz que vale a pena trabalhar no campo e que são os jovens que vão conseguir mudar o padrão de agricultura brasileira. Veja abaixo, a íntegra da entrevista:

Como foi sua trajetória na criação de uma startup para o agronegócio? 

Mariana Vasconcelos: Eu sou do agro, cresci no campo e, portanto, sempre acompanhei de muito perto o desafio que é a tomada de decisões no campo e como isso tem ficado cada vez mais difícil nesse cenário de mudanças. Formei-me em administração em curso bastante relacionado à tecnologia e trabalhei em outras empresas antes de criar a Agrosmart. Conhecia sobre inteligência artificial e internet das coisas e chegou um momento em que pensei: ‘Por que não aplicar essas tecnologias para o agro?’. No Brasil, o agro tem uma relevância enorme por ter tanta participação na economia, além de ser referência mundial, mas há uma dificuldade em ser respeitado no mundo com a nossa tecnologia. Porém, seguramente, poderíamos ser respeitados com tecnologia para o agro já que o agro é respeitado mundialmente. Então, foi a junção das minhas raízes com a minha paixão que é a tecnologia para poder trazer impacto para a nossa comunidade.

Na sua opinião, como deve ser a atividade rural do futuro?

Mariana Vasconcelos: A atividade rural do futuro vai continuar sendo importante. Tem dois tipos de movimento. Tem o movimento de industrialização cada vez mais eficiente, com mais informação e mais dados. Mas ao mesmo tempo se tem o inverso, que seria a valorização do rústico, do artesanal e do local. E as duas coisas têm peso. Então eu acho que o futuro é uma atividade rural orientada a dados, com bastante informação, onde as pessoas fazem menos trabalhos manuais e mais trabalhos de decisão, de análise. Que é mais sustentável e que tem história, justamente porque tem essa transparência do que aconteceu no processo, tanto na maior escala quanto na menor escala.

Como a tecnologia pode ser aliada da agricultura?

Mariana Vasconcelos: A tecnologia é aliada da agricultura principalmente porque estamos passando por um cenário onde a gente vai precisar alimentar quase 10 bilhões de pessoas em 2050, o que significa um aumento de produção de cerca de 70%. E tem limitações de terras com algumas porcentagens de terras degradadas e problema com água porque se usa muita água hoje; quase 20% das áreas cultivadas são irrigadas e ela produzem 40% dos alimentos. A irrigação é muito importante para se conseguir produzir mais e criar resiliência climática também porque ela permite dar mais alimento para a planta, plantar fora de época e ter mais de uma safra e plantar onde antes não tinha condições naturais à agricultura. Mas por outro lado, às vezes por falta de conhecimento, a gente acaba perdendo parte da água da irrigação, que é um recurso limitado. E há as mudanças climáticas, que têm mudado a dinâmica das chuvas, das temperaturas, aumentando a pressão de pragas e doenças, criando mais eventos adversos climáticos. Então o produtor está num cenário em que ele precisa produzir mais com menos recursos. E tem também a pressão do consumidor, que está cada vez mais consciente e quer essa transparência, o que demanda práticas mais sustentáveis. O produtor precisa ter como contar para o comprador como ele produziu. E a tecnologia vem como uma aliada aí, trazendo dados e informações, para poder medir, gerenciar, melhorar e ajudar o produtor a lidar com essa mudança. Quando a gente vê o que está acontecendo, se consegue antever movimentos e se adaptar de maneira preventiva ao que está acontecendo e também tem ali medidas para poder comprovar e contar como foi feito. Então, a tecnologia ajuda o produtor a ter uma maior resiliência climática, a ter uma maior produção, a utilizar os recursos – água, energia e insumos – da melhor maneira e a ter a rastreabilidade.

Que recado você deixa para os jovens aprendizes rurais?

Mariana Vasconcelos: O recado que eu tenho para os jovens rurais é que vale a pena trabalhar do campo. O campo é a nossa vocação como nação e o Brasil tem uma relevância, um papel e uma responsabilidade de alimentar o mundo. Mas que esse papel ganha cada vez mais significado, é cada vez mais valorizado a gente garantir o alimento dos outros. E que existe maneiras de fazer isso de um jeito melhor, que nos dê condições de vida melhor, que nos dê mais margem, mais seguridade, mais segurança e que, então, fica a dica para os jovens, de se envolverem, de aprenderem, de se conectarem com a terra e de buscarem essa questão da tecnologia, porque vai ser a mão de obra mais necessitada nos próximos anos, e que eles vão conseguir mudar o padrão de agricultura que a gente tem. Então, buscar saber e aprender a utilizar as tecnologias porque eles podem ser os líderes responsáveis por educar as comunidades do agro, já que a nova geração tem mais aptidão com a tecnologia. A tecnologia tem feito um grande papel em manter os jovem no campo e trabalhar a sucessão familiar.

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