Para diminuir o contrabando

Ministro Sérgio Moro criou grupo de trabalho para avaliar soluções ao mercado ilegal de cigarros. Relatório deve ser apresentado no final junho.

As medidas antitabagistas têm sido mais eficientes para o aumento do contrabando de cigarros do que na redução do consumo. Essa foi uma das constatações que o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, levou para a audiência pública da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, encontro de discussão do Projeto de Lei 769/2015 (que proíbe patrocínios e aditivos de sabor e aroma e torna genéricas as embalagens de cigarros).

Schünke lembrou que as medidas restritivas já adotadas levaram os brasileiros a consumirem cigarro contrabandeado em detrimento do produzido no Brasil. De 2015 para 2018, o consumo de produto ilegal subiu de 39% para 54% e o mercado legal encolheu de 61% para 46%. “As embalagens de cigarros no Brasil já levam 65% de advertências e a população está informada que o cigarro faz mal à saúde. Comparando com as embalagens contrabandeadas, percebe-se grande diferença com relação à atratividade, uma vez que os produtos ilegais não carregam advertências”, disse. “Há uma série de restrições relacionadas aos pontos de venda. E o mercado ilegal vende onde quiser e ao preço que quiser”, alertou.

Mas, há indicativos de que o governo brasileiro esteja tomando ciência de que as restrições para diminuir o consumo acabaram aumentando o contrabando. Em março, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, criou um grupo de trabalho para discutir o combate ao contrabando e avaliar estratégias para diminuir o consumo de cigarros estrangeiros de baixa qualidade. Composto pela Polícia Federal, Secretaria Nacional do Consumidor, Assessoria Especial de Assuntos Legislativos, Ministério da Saúde e Ministério da Economia, o grupo deverá apresentar o relatório no final de junho.

Conforme Sérgio Moro, é preciso avaliar vários aspectos sobre o consumo global, pois os cigarros paraguaios são um problema grave de saúde pública e não é fácil coibir o contrabando apenas por repressão policial.

PARA LEMBRAR – Conforme dados do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), a carga tributária imposta aos cigarros produzidos no Brasil representa de 70% a 90% do produto, enquanto no Paraguai, é de apenas 18%. Em 2018, somente com cigarros, a Receita Federal arrecadou R$ 11,4 bilhões, ao passo que a evasão fiscal foi de R$ 11,5 bilhões em função do mercado ilegal. Ou seja, os cofres públicos estão perdendo somas maiores do que os valores arrecadados.