O que Greta Thunberg tem em comum com os jovens aprendizes do Instituto Crescer Legal?

Pode parecer estranho que uma menina de 16 anos, da Suécia, um país no norte da Europa, tenha algo em comum com nossos jovens do Crescer Legal. Porém, no mundo globalizado de hoje, ressalvadas as diferenças de culturas e realidades sociais, os jovens têm muito em comum, não apenas quanto à idade e compreensão física, ou quanto às músicas que gostam e às roupas que vestem, mas quanto ao modo de ver e intervir no mundo.

Greta Thumberg é uma garota que há mais de um ano viu um filme na sala de aula sobre o “Aquecimento Global”. O que é isto? É um processo climático que está acontecendo e que os principais cientistas do mundo alertam já há alguns anos às autoridades do planeta. Na medida em que cada vez somos mais pessoas no mundo e produzimos gases pela queima de combustíveis fósseis, a atmosfera terrestre está mudando de temperatura e ficando mais quente, com isso o nível dos oceanos está aumentando. Temos sentido várias consequências desse processo: são mais enxurradas, mudanças nas estações, alterações nos ciclos de vida das plantas e animais, entre outros. No meio rural todos sabem que o clima vem mudando e sentem seus efeitos.

A garota sueca ficou impressionada com as informações recebidas e com a falta de ações concretas dos adultos para reduzir as causas do problema. Depois de pesquisar o assunto e de conversar com os pais, ela passou a fazer uma “greve de escola”, nas sextas-feiras, e ir para a frente do parlamento sueco protestar. Primeiro ia sozinha, com um cartaz. Depois, com a divulgação do seu movimento, mais jovens foram juntando-se a ela. Nas últimas manifestações milhares de jovens, de mais de 150 países, foram às ruas protestar para chamar a atenção das autoridades.

Greta foi convidada para falar na ONU e foi recebida pelo Papa Francisco. Junto com outros jovens, tem levado adiante o protesto da geração a que pertence. O objetivo deles é que os adultos escutem seu ponto de vista e sua preocupação com o futuro do planeta.

Nossos jovens do Crescer Legal também são assim. Muitas vezes acessam informações disponíveis na internet, na escola, ou nas aulas do Programa de Aprendizagem que frequentam. Nos dias atuais, as informações chegam às pessoas por várias fontes, algumas são trabalhadas pelos adultos com os grupos de jovens, com o objetivo de ampliar suas visões de mundo, sua compreensão sobre a natureza, a sociedade, a cultura, a história…

Provavelmente, os jovens do Crescer Legal já ouviram falar em Aquecimento Global e até mesmo em Greta Thumberg.

Alguns assuntos, dependendo do grupo e das circunstância, mobilizam a atenção dos jovens, sempre em dimensão diferente dos adultos. Isso acontece, porque questões que interessam a todos, quando somos jovens, nos afetam pessoalmente. É assim com temáticas diversas, como a situação do planeta terra, o meio-ambiente, ou a situação social do país e da comunidade. Depois, crescemos, vamos nos acomodando com a situação tal qual ela é. Nos resta pouco tempo de vida e não temos esperança de muitas mudanças. Assim, vamos acomodando nosso pensamento e nossas ações.

Quando se é jovem não é assim, dependendo da intensidade com que as emoções são vividas, elas são combustíveis para mobilização, para ação, para movimento e para mudança.

Em cada um dos municípios onde estão funcionando turmas do Instituto Crescer Legal, a comunidade já sentiu a presença dos jovens: com um projeto de aulas de informática para idosos, em uma feira de produtos regionais, ou a participação em uma sessão da Câmara de Vereadores. Movimentos… Movimentos mostram opinião, pontos de vista, reflexão e preocupação com o coletivo, para além do mundo pessoal.

Os jovens têm a coragem de agir que, muitas vezes, nós adultos perdemos. Tem a inconsequência e o imediatismo que produz mudanças, ou que chama a atenção para os problemas.

É uma pena que não prestamos atenção no que estão nos dizendo…. Às vezes registramos em nossas mentes adultas que o que vem deles é desnecessário, exagerado, indisciplinado, arrogante e outros adjetivos. E, diante disso, não nos dispomos a ouvir.

Nossos jovens são muitas Gretas. São porta-vozes do seu tempo, que é nosso tempo também. Talvez precisemos deles para questionar o quanto consideramos normal, o anormal funcionamento das coisas.

Colunista

Ana Paula Motta Costa

Advogada, socióloga, mestre em Ciências Criminais (PUC/RS), Doutora em Direito (PUC/RS), Professora do Curso de graduação, Mestrado e Doutorado da UFRGS e Professora do Curso de Mestrado em Direitos Humanos do UniRitter. É pesquisadora há vários anos na área dos direitos das crianças e adolescentes, com vários livros e artigos publicados em periódicos científicos. É consultora do Instituto Crescer Legal para a área de aprendizagem de jovens rurais e combate ao trabalho infantil.