Lugar de mulher é onde ela quiser

A edição de 2022 do Programa Nós por Elas – A voz feminina do campo se encerra com a divulgação de novos boletins produzidos por sete garotas egressas do Programa de Aprendizagem Profissional Rural do Instituto Crescer Legal. Os temas ‘O que ouço sobre ser mulher’, ‘A romantização do ciúme’ e ‘Os desafios de deslocamento das mulheres’ são apresentados nas vozes de Ana Paula da Silva Furtado, Taiane Andreia Machado de Castro, Rafaela dos Santos Silva, Giovana da Silva de Moraes, Camila Schellin Goldbeck, Chaiane Römer Völz e Taissa Beiersdorff Böhlke. Para ouvir, CLIQUE AQUI.

Para o boletim sobre ‘Ser mulher’, as participantes realizaram pesquisas, fizeram reflexões conjuntas e produziram um programa para lembrar o quão danosos são os discursos que reforçam a desigualdade entre homens e mulheres e o quanto podem ser prejudiciais para a autoestima, a segurança e a autonomia feminina. “As mulheres são estimuladas a serem cuidadoras, a assumirem responsabilidades por tudo e por todos. As obrigações provocam o acúmulo de funções com a família, no trabalho, nos estudos e nas atividades domésticas”, consta no áudio. “Ouvem a vida inteira frases intimidadoras e limitantes que agravam a pressão para serem perfeitas, adequadas, produtivas e dependentes”, resumem as meninas. Por isso, produziram um boletim visando diminuir a pressão sobre as mulheres e mostrando que algumas são exemplo de superação, que mesmo tendo ouvido a vida inteira dúvidas sobre a sua competência, se tornaram empreendedoras e profissionais de sucesso.

O programa que trata sobre a romantização do ciúme alerta para comportamentos opressores nas relações afetivas. Ao abordar o tema, as meninas do Nós por Elas trazem para discussão o fato de que o ciúme é culturalmente visto como algo natural nos relacionamentos e que as mulheres aprendem desde cedo a ver o controle como uma demonstração de amor e cuidado. Embora as mulheres hoje tenham mais participação na sociedade, existem crenças difíceis de abandonar e que nem sempre são conscientes. Essa confusão entre o que é amor e o que é controle no relacionamento amoroso foi tema de pesquisa das bolsistas. “A visão distorcida do ciúme é alimentada pela indústria do entretenimento, onde é retratado como algo positivo e aceitável. Porém, na prática, leva a relacionamentos abusivos”, consta. O boletim conta ainda com uma entrevista com a delegada Raquel Schneider, de Santa Cruz do Sul/RS, onde ela explica que as mulheres devem procurar ajuda em qualquer situação de abuso, inclusive denúncias anônimas são aceitas. Para produzir o programa, também foi ouvido o relato de uma jovem que teve relacionamento abusivo com um namorado excessivamente possessivo, situação da qual ela se libertou após ouvir o alerta da sua mãe sobre a situação.

E o terceiro boletim trata sobre os desafios encontrados pelas mulheres nos deslocamentos no espaço público, situação que afeta especialmente as mulheres que vivem em regiões rurais. “O espaço público ainda é um ambiente hostil para a mulher. O medo, a insegurança e o assédio são constantes no cotidiano feminino, limitando e até impedindo a mobilidade em alguns horários”, observam as meninas. O programa mostrou que algumas encontram soluções criativas, como a jovem Taiane Castro que estudava à noite e o trajeto tinha iluminação escassa e não contava com transporte público. Por isso, a mãe dela voltou para a escola e as duas passaram a fazer o trajeto juntas. Essa atitude não é isolada, pois a jornalista Babi Souza criou o movimento ‘Vamos juntas’ incentivando as mulheres a andarem juntas para sentirem mais segurança. Outra forma sugerida pelo Nós por Elas é buscar autonomia fazendo a carteira de habilitação e o exemplo citado foi da professora Goreti de Melo, de Herveiras/RS, que foi precursora em seu município a fazer habilitação para conduzir motocicleta.

O PROGRAMA – O Nós por Elas é executado numa parceria entre o Instituto Crescer Legal e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), com o objetivo de valorizar e desenvolver egressas do Programa de Aprendizagem Profissional Rural, promovendo a reflexão sobre a questão de gênero, além da troca de experiências, capacitando-as na área de comunicação, como multiplicadoras do conhecimento adquirido para outros jovens do meio rural e para a comunidade. As garotas da edição de 2022 são filhas de produtores rurais e vivem em localidades dos municípios gaúchos de Boqueirão do Leão, Herveiras, Passo do Sobrado e Canguçu.