ESG no agronegócio

A agenda ESG (Environmental, Social and Governance) já se consolidou como parte importante na hora de fechar negócios, especialmente internacionais, e isso impacta diretamente na produção rural, visto que o Brasil é um grande exportador. No setor do tabaco, há décadas já vinha sendo dada atenção especial às normas relacionadas ao Ambiental, Social e Governança, tanto nos processos produtivos como industriais.

Sobre o tema ESG e agronegócio, leia abaixo a entrevista como o engenheiro agrônomo diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, Ricardo Augusto Felicetti.

Entrevista

Recentemente, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) recebeu ênfase entre os setores produtivos. Como o agronegócio se encaixa nessas práticas?

Ricardo Felicetti: A sigla ESG vem à tona em nível internacional como uma demanda dos mercados consumidores aos entes produtivos, cujos mercados anseiam por produtos e serviços com a devida responsabilidade, ambiental, social e regulatória. O agronegócio, em especial o brasileiro, com sua atividade ligada intrinsecamente ao ambiente, relevância social e regulação direta, é permanentemente exigido e atento a estes condicionantes, protagonizando a agenda ESG como executor. Não se trata de uma proposta às atividades agropecuárias mas uma realidade nas atividades agropecuárias brasileiras, cujas características atendem ou buscam atender as exigências, juntamente com um viés adicional de patrimônio cultural, haja vista que a agropecuária brasileira é desenvolvida com tradição histórica, resultando na vocação brasileira de grande protagonista mundial na produção e exportação de gêneros agropecuários.

No caso de alguns setores, como o do tabaco, essas práticas já são incentivadas há muitos anos e até décadas. Pode-se dizer que é mais difícil fazer ESG ou comunicar ESG?

Ricardo Felicetti: Em setores produtivos dinâmicos e bem organizados como o setor do tabaco, as práticas em ESG são permanentemente adotadas. Sem dúvida há muito para melhorar, sendo a adoção destas práticas um processo contínuo de aprimoramento. Contudo, diferentemente de iniciativas em outros setores empresariais e internamente em empresas, que adotam a comunicação ESG como estratégia de marketing e valorização dos produtos, o setor do tabaco desempenha a adoção anteriormente à comunicação, evidenciando a dificuldade de trazer ao conhecimento do público geral as ações já realizadas. Adicionalmente, as ações são desempenhadas em nível de setor, o que demonstra inovação e grande capacidade de organização entre os agentes, mas torna mais difícil a comunicação tendo em vista o grande número de agentes envolvidos. Por esta razão ao meu ver, especificamente no setor do tabaco e outros setores bem organizados e atentos à ESG, é mais difícil a comunicação das práticas ESG e o conhecimento por parte do público geral, já que a adoção destas práticas já é realizada.

O setor do tabaco foi pioneiro em atender requisitos como o da logística reversa antes mesmo da legislação sobre o tema existir. Como esse tipo de inovação impacta para a imagem do agronegócio brasileiro?

Ricardo Felicetti: Medidas proativas como essa promovem uma imagem muito positiva aos setores que às desenvolvem, contribuindo para o reconhecimento da responsabilidade associada às pautas ESG no cenário agropecuário nacional. Isso demonstra a capacidade dos setores mais organizados em antecipar as demandas de sua responsabilidade, antes mesmo das exigências legais. Porém, para haver o impacto positivo à imagem do setor é necessária a devida publicidade dos feitos, o que para o setor agropecuário é o mais difícil haja vista a complexidade dos setores e entes envolvidos. Sem a devida publicidade as ações não são percebidas, sujeitas a descrédito e até discursos contrários e manipuladores de opinião. Desta forma, medidas inovadoras e de consistência às práticas ESG devem ser necessariamente acompanhadas pela publicidade setorial, nacional e internacional para a percepção dos efeitos.

A obtenção de renda digna na agricultura familiar proporcionada pelo tabaco é um valor social da sigla ESG?

Ricardo Felicetti: Ao meu entender sim. A obtenção de renda através da produção nas unidades de produção familiar permite a ocupação dos agricultores familiares, manutenção destes no campo e diminuição do êxodo rural, em especial na agricultura familiar, cuja escala de produção é menor e mais vulnerável. Para ocorrer isso há necessidade de um mercado estável para aquisição da produção, além de receita que possibilite a geração de riqueza aos agricultores. Nesse sentido, o setor tabagista se configura como um mercado estável à agricultura familiar, permitindo rendimentos em pequenas áreas, além do apoio recebido pelas empresas em assistência técnica e obtenção de insumos.

Em relação à questão ambiental, os pequenos produtores de tabaco atendem a exigências não vistas em grande parte do mundo. A que o senhor atribui essa efetividade?

Ricardo Felicetti: A agricultura familiar em geral promove o atendimento às exigências ambientais por diversos fatores, como o empreendedorismo do agricultor familiar, que necessita observar sua unidade de produção com planejamento de curto médio e longo prazo, o atendimento às leis e normas, que é uma iniciativa presente na maioria dos agricultores familiares, a leitura do ambiente de produção e sua eficiência, permitindo ao agricultor planejar sua diversificação e o uso da terra, entre outros. Esses aspectos permitem ao agricultor familiar, que detém essa compreensão de uso da terra com sua dedicação e conservação dos recursos naturais, a observação em geral à atividade produtiva em consonância com a manutenção de sua unidade de produção, a qual está intimamente ligada o sustento e a qualidade de vida de sua família. Por essas questões que o agricultor familiar, incluindo o produtor de tabaco, se consolida como um agente de preservação ambiental, além de desempenhar sua função social com a geração de riqueza em sua produção.

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Leia também a entrevista com Ricardo Felicetti publicada na página 3 da SindiTabaco News. Para ver a versão digital, CLIQUE AQUI